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📅 Data de atualização: 15/03/2025Neste artigo, Horace Miner demonstra que “atitudes quanto ao corpo” têm influência generalizada em muitas instituições da sociedade Sonacirema. As crenças e práticas mágicas deste povo apresentam aspectos tão pouco usuais, que nos parece importante descrevê-las como exemplos dos extremos a que o comportamento humano pode chegar.
[...] A crença fundamental subjacente a todo o sistema para este povo parece ser a de que o corpo humano é feio, e que sua tendência natural é a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar essas características, através do uso de poderosas influências do ritual e da cerimônia.
O ponto focal do santuário é uma caixa ou arca embutida na parede. Nesta arca são guardados os inúmeros feitiços e porções mágicas, sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais feitiços e porções são obtidos de vários curandeiros cujos serviços devem ser retribuídos por meio de presentes substanciais. No entanto, o curandeiro não fornece as porções curativas para os fiéis, decidindo apenas os ingredientes que nela devem entrar, escrevendo-os, em seguida, em linguagem antiga e secreta. Tal escrita deve ser decifrada pelos herbanários, os quais, mediante outros presentes, fornecem o feitiço desejado [...]
Na hierarquia dos profissionais da magia, e abaixo do curandeiro em termos de prestígio, estão os que são designados como ‘homens-da-boca-sagrada’. Os Sonaciremas nutrem um misto de horror pela e fascinação por suas bocas que chega às raias da patologia. Acredita-se que a condição da boca possui uma influência sobrenatural nas relações sociais [...]
Os curandeiros possuem um templo imponente, o Latipsoh, em cada comunidade, de algum tamanho. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para o tratamento de fiéis considerados muito doentes, só podem ser realizadas neste templo. Tais cerimônias envolvem não só o taumaturgo, mas também um grupo permanente de vestais que se movimentam nas câmaras do templo com uma roupa distintiva.
As cerimônias no Latipsoh podem chegar a ser tão violentas que surpreende o fato de que uma razoável proporção dos nativos realmente doentes, que entram no templo, consiga se curar. Os doentes adultos não apenas desejam, como ficam ansiosos para submeter-se à prolongada purificação ritual. Os guardiões do templo, não importa quão doente o suplicante esteja ou quão grave a emergência, não admitem o fiel se ele não puder dar um rico presente ao zelador. Mesmo depois que se conseguiu a admissão e se sobreviveu às cerimônias, os guardiães não permitem a saída deste até que este dê ainda outro presente [...]
Etnocentrismo é a prática de avaliar outras culturas com base nos valores e padrões da própria, considerando-a superior às demais. Isso pode se manifestar, por exemplo, quando práticas culturais como alimentação, vestuário ou religião são vistas como "estranhas" ou "erradas" apenas porque diferem dos costumes ocidentais.
O racismo é uma ideologia que atribui diferenças biológicas e comportamentais entre os seres humanos com base na raça, justificando a discriminação e a marginalização de determinados grupos. Durante a modernidade, o racismo foi reforçado por teorias pseudocientíficas que tentaram estabelecer hierarquias raciais, consolidando práticas como a escravidão. O racismo não é apenas um preconceito individual, mas uma estrutura social que perpetua desigualdades, sendo uma característica importante da modernidade ocidental.
A modernidade, marcada por transformações sociais e tecnológicas, também consolidou ideias racistas e etnocêntricas, ao promover a visão de que as culturas ocidentais eram superiores. Esse fenômeno se refletiu nas políticas coloniais e na opressão de culturas indígenas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, que continuaram sendo vistas como "primitivas" e necessitando se adaptar à modernidade. Essas ideologias contribuíram para uma estrutura social que marginaliza e discrimina até hoje.
O texto de Horace Miner, "O Ritual do Corpo entre os Sonacirema", satiriza o etnocentrismo ao descrever hábitos culturais americanos como se fossem de uma sociedade exótica e primitiva. Miner mostra como práticas cotidianas podem parecer estranhas quando observadas de fora, destacando a importância de não julgar outras culturas segundo padrões próprios. Isso é fundamental para combater a marginalização de culturas, especialmente as indígenas, e para entender que todas as culturas têm igual valor.
Portanto, a reflexão sobre o etnocentrismo, o racismo e a modernidade nos leva a compreender que as diferenças culturais não devem ser vistas como inferiores, mas como expressões legítimas de modos de vida, essenciais para construir uma sociedade mais inclusiva e justa.
ENEM 2021 - Sociologia
O torém dependia de organização familiar, sendo brincado por pessoas com vínculos de parentesco e afinidade que viviam no local. Era visto como uma brincadeira, um entretenimento feito para os próprios participantes e seus conhecidos.
O tempo do caju era o pretexto para sua realização, sendo chamadas várias pessoas da região a fim de tomar mocororó, bebida fermentada do caju.
VALLE, C. G. O. Torém/Toré: tradições e invenção no quadro de multiplicidade étnica do Ceará contemporâneo. In: GRÜNEWALD, R. A. (Org.). Toré: regime encantado dos índios do Nordeste. Recife: Fundaj-Massangana, 2005.
O ritual mencionado no texto atribui à manifestação cultural de grupos indígenas do Nordeste brasileiro a função de: